Após um ano longe do blog, retorno a
ativa com uma postagem que pode ajudar tanto jogadores iniciantes quanto
mestres experientes.
Vamos dar nome aos bois!
O processo de criação de um personagem de
RPG pode parecer complicado no início, principalmente para quem não está
familiarizado com o sistema ou não gosta de matemática... ou ambos. Entretanto,
qualquer jogador com um pouco mais de experiência já percebeu que, após criar
algumas fichas naquele sistema favorito e jogar um pouco com seu personagem,
mesmo aquelas incontáveis tabelas do livro do mestre deixam de ser complexas e
assustadoras e se tornam até divertidas. Afinal, já está tudo pronto e
esquematizado, cabendo ao jogador apenas escolher o que ele quer e o que não
quer que seu personagem tenha.
Existe uma parte da ficha, entretanto,
que é considerada sempre a parte mais difícil de todo o processo, sendo,
inclusive, deixada por último na maioria das vezes: a escolha de um nome para o
seu personagem.
Talvez porque esta seja a única parte da
ficha que não possua tabelas ou esquemas pré-determinados, tendo que partir
única e exclusivamente da mente do jogador, talvez porque o nome seja o que
determine como o personagem é e porque irá acompanha-lo enquanto o jogador
quiser jogar com ele. O fato é que muitos rpgistas travam na hora de criar um
nome para seu herói.
Estarei trazendo aqui dicas que utilizo em
minha mesa de jogo para ajudar os meus jogadores e, até mesmo para criar NPCs
interessantes.
A primeira característica que nos vem à
mente, quando jogamos um RPG é: “Não estamos mais em nosso mundo real.” Isso é
particularmente verdade quando se joga um RPG de Dungeons and Dragons ou outro
RPG equivalente de fantasia Medieval (estilo Senhor dos Anéis e Crônicas de
Nárnia). Os nacionalistas de plantão que me perdoem, mas não há nada melhor para
dar um clima de exoticidade e mistério na história, do que utilizar-se de nomes
estrangeiros. Nomes estranhos, exóticos, de significado desconhecido e pouco
utilizados, irão servir para lembrar aos jogadores, enquanto durar a sessão de RPG,
que a história que estão jogando não se passa no mundo em que eles vivem.
Quando se ouve ou lê nomes como Arthur de
Pendragon e Sir Lancelot, inevitavelmente vem a nossa mente a imagem de cavaleiros
munidos de espada e armadura, enfrentando inimigos de reinos distantes. O mesmo
acontece quando ouvimos os nomes D’Artagnan, William Walace, Rei Leônidas,
Robin Hood, Conan, entre outros. Todos esses nomes são raros e exóticos e acabam
se associando aos personagens que representam e ao cenário onde estão
inseridos.
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Athos, Porthos, Aramis, e Dartanhan: a simples menção desses nomes nos remete às aventuras de capa-e-espada.
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Dessa forma, quando se pretende criar uma
história que se passe em um cenário semelhante à Europa medieval, nada mais
lógico que procurar nomes de algum país dessa região para dar veracidade ao seu
personagem. O mesmo é válido se estivermos jogando uma aventura que se passe em
um cenário semelhante ao oriente médio ou o extremo oriente. Nesses casos,
nomes Árabes ou Chineses para os personagens e lugares por onde eles passam dariam um clima especial à aventura.
Nesse sentido, a internet é, com certeza,
uma ferramenta mais que imprescindível. Existem vários sites que apresentam
exemplos de nomes por região do planeta e, até mesmo por época, como os sites
que listo a seguir. Nessas páginas você, mestre ou jogador, poderá encontrar
dicas e sugestões para criar nomes interessantes para suas aventuras.
Outra característica que recomendo
veementemente que os meus jogadores tenham em mente é a originalidade dos
nomes. Sempre incentivo àqueles que desejam jogar minhas aventuras a criar
nomes próprios para seus personagens, para que não aconteça na mesa de jogo a
“projeção automática” de imagem na mente dos outros jogadores. Como isso
acontece? Bem... Imagine a seguinte situação: você está começando a jogar um
RPG com um grupo de amigos e resolve criar um guerreiro poderoso e honrado,
descendente de uma família real. Você decide que quer sair pelo mundo em uma
jornada de descoberta, ajudando as pessoas e aprendendo o valor da humildade,
para ser um rei melhor no futuro, quando assumir a coroa de seu pai. Até aí
tudo bem, entretanto, após assistir ao Senhor dos Anéis e, empolgado com o
filme e com o seu personagem, você tem a “brilhante” ideia de dar ao seu
personagem guerreiro o nome de Aragorn.
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Viggo Mortensen deu vida, nos cinemas a Aragorn, o herdeiro de Isildur. |
Não importa quantos desenhos faça ou
quantas partidas joguem, sempre que alguém disser o nome de seu guerreiro, o
que virá a mente dos jogadores será a imagem do personagem Aragorn,
imortalizado nas telinhas pelo ator americano Viggo Mortensen, e não do
personagem aventureiro que você criou.
O mesmo pode ser dito para personagens
icônicos como o William Wallace de Mel Gibson, o Rei Leônidas de Gerard Butler,
Conan, o Bárbaro, de Arnold Schwarzenegger, Maximus de Russel Crowe, entre
outros. Utilizar-se desses nomes é garantia quase certa de que seu personagem
será lembrado apenas como “mais uma cópia do gladiador”, ou “mais uma cópia dos
300 de Esparta”.
É claro que não estou afirmando que é
proibido você se inspirar em um personagem que você conheça ou admire. Muito
pelo contrário: é até mais fácil para o jogador e o mestre, mesmo quando são
experientes, utilizarem-se de exemplos conhecidos para agilizar o processo de
criação. Você só não precisa se prender ao que já está criado. Use como
referência, não como regra.
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William "Gibson" Wallace; Conan "Schwarzenegger"; Maximus "Crowe"Meridius e Leônidas "Butler": a imagem dos personagens se confunde com as dos atores que lhes deram vida. |
E, se você quiser homenagear algum herói
famoso com seu personagem, isso ainda é possível, é só ser menos óbvio e
utilizar-se de um pouco de sutileza e pesquisa. Por exemplo, nosso
guerreiro-rei poderia se chamar Elfstan ou Tarkil, nomes com os quais o autor
de O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien, cogitou batizar o herdeiro de Isildur, antes
de se decidir por Aragorn. Ainda seria uma homenagem ao Aragorn do filme, mas de
uma forma menos óbvia.
Mais exemplos: ao invés de chamar seu
poderoso mago lançador de Bolas de Fogo de Gandalf, que tal chamá-lo de Olorin,
nome pelo qual Gandalf era conhecido no passado? Ao invés de chamar seu
cavaleiro honrado de Lord Arthur, porque não lhe dar um primeiro nome diferente
e o sobrenome de Pendragon, o mesmo do famoso Rei? Ainda, no lugar de chamar
seu bárbaro de Conan, porque não chama-lo de Amra, nome que Conan da Ciméria
utilizava no passado e que aparece apenas nos quadrinhos?
As homenagens ainda estariam lá, mas
seria mais difícil aos jogadores associarem a imagem desses personagens ao
herói que você criou.
Outra estratégia muito utilizada ao se
elaborar o nome de seu personagem é criar um título associado a alguma
característica dele, seja física, psicológica ou momentânea, como um evento em
uma batalha ou uma história do passado. Quer exemplos? Capitão Gancho; Thorin
Escudo-de-Carvalho; Eric, O Ruivo; Ivan, O Terrível; Alexandre o Grande; Buffalo
Bill; entre vários outros.
Como isso funcionaria em um RPG? Simples:
se o seu personagem é um bárbaro do norte que tem um soco poderoso, porque não
chama-lo de Eric Ironhand (junção das palavras Mão=Hand e Aço=Iron, em inglês).
Se ele é um ladino hábil com espadas, poderia chama-lo de Alex Sharpblade (Sharp=afiada,
blade=lâmina).
Os nomes em inglês servem para dar o
“clima” de exoticidade à aventura, afinal, as histórias de cavalaria tiveram
origem na Inglaterra medieval. Recentemente, eu e meus jogadores fizemos as
pazes com a língua-pátria e percebemos que títulos em português, associados a
nomes exóticos ou estrangeiros, rendem bons nomes para personagens
aventureiros, não deixando nada a dever em sonoridade e imponência aos nomes
“gringos”. Por exemplo: nosso bárbaro poderia se chamar Bron Punho-de-Aço e
nosso ladino poderia se apresentar como Gildor Lâmina-Veloz. Bron é um nome de
origem holandesa e quer dizer “origem” e Gildor é o nome de um elfo que aparece
no livro O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, e ajuda Frodo a deixar o
Condado.
A
origem do primeiro nome do personagem não precisa ser uma regra fixa. O jogador
pode ter ouvido uma palavra interessante em alguma outra língua e utilizá-la
para nomear seu mago, ou talvez ele tenha pensado em um nome que nem existe,
mas tem uma boa sonoridade. Isso não importa. O RPG permite essa flexibilidade,
desde que o nome não fique ridículo nem soe ofensivo, logicamente.
É claro que não devemos nos deixar levar
pela empolgação. Deve-se criar nomes
eficientes, exóticos o bastante para serem marcantes, mas, ao mesmo tempo,
simples o suficiente para serem lembrados na mesa de jogo. De que adianta você
criar um poderoso gladiador ex-escravo com a imponente alcunha de Baltrandus
Rompe-Grilhões, se os outros jogadores não guardam seu nome e ficam a aventura
inteira se referindo ao seu personagem como “o guerreiro”, ou “o gladiador” do
grupo?
Se mantivermos em mente essas regras
simples, os limites para a criação de nomes diminuem consideravelmente. Ao
criar os títulos e sobrenomes para diferenciar nossos heróis, podemos utilizar
várias referências tais como:
→ Características
físicas (Alderan Barba-Longa; Cletus Caolho; Siegrifid Longhair);
→ Uma
arma ou estilo de luta marcante que o personagem usa (Ethon Longsword; Kaldreus
Escudo-de-Prata; Alexia Adaga-Veloz);
→ O
nome da cidade ou região onde ele nasceu (Robert de Rivercastle; Malek da
Fronteira Longínqua; Erick do Forte Vigilante);
→ Histórias
de batalhas ou feitos heroicos que marcaram o personagem (Julian
Guia-dos-Prados; Joselyn Battlesinger; Lauriel Fúria-de-Fogo);
→ Títulos
e posição social (Barão Von Stag; General Marcellus; Mago Allandrus);
→ Alcunhas
relacionadas ao trabalho (Brandon Fagulha, o ferreiro; Alana Rouxinol, a barda;
Derek Fornalha, o padeiro);
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Brandon Fagulha: o apelido é bem merecido |
De posse dessas informações e com estas
regras básicas em mente, praticamente não há limites para a criatividade de
mestres e jogadores.
Ah,
mas, mesmo assim faltou a inspiração?
Que
tal dar uma olhada nesses sites aqui:
O primeiro site é um site americano sobre
nomes para bebês. Os nomes estão divididos por região de origem e, com certeza,
podem haver boas ideias ali. O segundo site trata de uma lista com sugestões de
nomes medievais variados e o terceiro é um gerador aleatório de nomes, um recurso desesperado que pode ajudar a tirar o mestre e seus jogadores do
aperto, em um último caso.
Afora isso, a internet está cheia de sites de origem de nomes e, também, geradores de nomes, desde nomes de super-heróis até nomes élficos e anões. Basta
aos jogadores pesquisarem um pouco, até encontrarem o que mais lhes ajudar no
momento.
Agora já sabem, caros amigos rpgistas:
nada de Aragorns e Arthures em suas mesas de jogo hein?
O RPG é um jogo que estimula a
criatividade, então, deixemos essa criatividade aflorar.
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Bram Ironhorn (chifre de aço): um dos personagens mais marcantes de minha mesa de jogo. mesmo anos depois de sua criação, o jogador que o interpretava e os outros membros da mesa ainda se lembram dele com carinho e admiração. |