quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Capítulo I: Cena 3 - A Primeira Missão

        A primeira aventura que joguei não era minha aventura na verdade... era uma aventura pronta que vinha na revista Universo Fantástico do RPG #2, e nos apresentava o mundo de Enda, um cenário alternativo de RPG que estava sendo divulgado na época por um grupo de RPGistas que realiza seções de live action.
        Ainda me lembro bem dos personagens que estavam disponíveis, em fichas prontas, para serem jogados: Baaltur Mão-de-Aço; Dioff, Morë Nárë, Elliot Dagurkin Nordvar, Gwendlyn Iohankhinya Siegvar, Hilka Daryakhinya Zeltvar e Sadok Pés-Cobertos.
        
Os originais: Sadok...

... e Dioff.
         Lembro também que apenas dois de meus quatro aventureiros aceitaram jogar com personagens prontos. Os outros dois resolveram criar seus próprios heróis. Desde o primeiro momento, a principal característica que torna o RPG tão fascinante permeou minhas seções de jogo: o livre arbítrio. Havia 6 personagens para serem escolhidos, mas, em nenhum momento os jogadores foram obrigados a escolher um deles, mesmo que para mim, como mestre, fosse mais fácil assim.
        Essa aventura contava a historia de Keallakvar: um povoado humano que se viu em meio a uma luta feroz entre os Elvezhir, o Povo Belo, também chamado de elfos,e os ograzhir, o Povo Selvagem, também conhecido como ogros. Atacados sem piedade pelos ogros, os elfos fugiram para o povoado e pediram abrigo. Pelas leis de hospitalidade do reino, o duque da região, Lord Dregan, concedeu asilo aos elfos fugitivos da fúria dos ograzhir.
        É então que os ogros atacam com força total, ferem a rainha dos elfos, Serien, e fogem com o Medalhão de Elros, um medalhão mágico que a elfa guardava e que tem o poder de dominar a mente dos seres inteligentes. Cabe aos heróis aventureiros a missão de partir atrás do grupo de ogros que roubou o artefato e trazê-lo de volta, antes que seja tarde demais.
        
O grupo reunido: Sadok...
...Dioff, Morë Nárë


...Diodar Dagurkin...
e Bren de Beleghotvar
         Os aventureiros seguem em diante, utilizam-se de suas habilidade e do apoio uns dos outros e adentram na sinistra floresta pra onde os ogros fugiram. Enfrentam alguns ogros retardatários e um dentre eles que possuía o estranho poder de se transformar em uma fera meio humana, meio lobo: um licantropo (lobisomem). Por fim, conseguem alcançar o bando de ogros que está com o medalhão e o enfrentam,  e ao seu líder: Lördûk ap Mogrul (Lördûk, o Implacável). Após uma terrível batalha, Lördûk é derrotado e os heróis retornam com o medalhão, mas descobrem uma terrível verdade: o conde Dregan está infectado pela licantropia e, na próxima lua cheia, vai se tornar uma fera meio humana, meio lupina.
          É claro que nossos heróis não iriam permitir que isso acontecesse, por isso, a missão da aventura seguinte já estava definida: buscar a cura para a licantropia.
         Eu e meus dois irmãos e meus dois amigos, entretanto, já estávamos totalmente infectados pelo vírus da imaginação.
Lördûk ap Mogrul: o primeiro grande vilão.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

“Mas afinal, Tio, como é que se joga?”

        Você que leu meu post anterior já sabe como nasceu o RPG, mas ainda não sabe o que é nem como se joga isso, certo?  Pois bem, para começar a explicar como o RPG é jogado, irei escrever aqui, com minhas palavras, um texto que li certa vez e que abriu minha mente sobre o assunto, na época em que ainda era um leigo.
          Jogar RPG é mais simples do que pode parecer a principio, porque não importa o sistema de regras que o grupo de jogadores usa, nem se estão jogando aventuras medievais ou com vampiros pomposos e refinados, no final das contas o RPG é, simplesmente, um jogo de contar histórias. Devido a esse fato, o jogo se torna algo bastante intuitivo para qualquer um que queira participar, pois o hábito de contar histórias é inerente ao ser humano e é uma das tradições mais antigas da nossa sociedade. Exagero? Nem um pouco: quando os homens das cavernas se reuniam ao redor da fogueira para representar, com danças e grunhidos, como foi a caçada do dia anterior, eles estavam contando uma história para os membros do bando que não podiam caçar. Quando os habitantes da antiga Grécia se reuniam nos enormes anfiteatros para assistir a representação de uma Tragédia Grega, havia uma história sendo contada ali. Mesmo hoje quando ligamos a TV ou vamos ao cinema, fazemos isso para ver alguém narrando algum tipo de história. Os meios de comunicação mudam, mas a idéia básica ainda é a mesma.

Homens das Cavernas: os jovens caçavam,
 mulheres, crianças e velhos não...
         O hábito de contar histórias é tão comum para nós que fazemos isso sem nem nos darmos conta: quando falamos de nossa vida em uma entrevista de trabalho, contamos uma piada para os colegas de classe ou tentamos explicar para a namorada o porquê do atraso para chegar ao encontro, estamos contando histórias.  E quando jogamos RPG fazemos exatamente a mesma coisa.
         Jogar RPG é como participar de um teatro improvisado, onde você não tem um roteiro a seguir e a história vai sendo criada à medida que vai sendo contada. Lembra-se de quando era criança e brincava de mocinho e bandido com seus amigos? Vocês iam improvisando as falas e imaginado os cenários, ao passo que a brincadeira se desenvolvia. RPG é a mesma coisa, guardadas as devidas proporções. Quando joga RPG você esta sentado a uma mesa e não existem armas de plástico ou ruas para se correr, entretanto, do mesmo jeito que a brincadeira de infância, você ainda tem que imaginar o cenário e decidir o que o seu mocinho ou bandido fará a seguir.

Acredite: na idade Medieval, um torta de
maçã valia, sim, uma carona de carroça...
          O mais divertido nisso tudo é que uma “partida” de RPG, por se passar principalmente na mente dos jogadores, está limitada a apenas uma coisa: a IMAGINAÇÃO desses mesmos jogadores. Dentro dos limites que os membros do grupo definiram antes do jogo começar e dentro das possibilidades do sistema escolhido, o jogador de RPG pode fazer qualquer coisa. QUALQUER COISA MESMO!  Essa liberdade de ação é que faz parecer, por alguns instantes, que você está mesmo dentro do mundo onde você esta jogando.
          Deixa eu lhes dar um exemplo: todo mundo conhece a história da Chapeuzinho Vermelho. Vamos imaginar que você pudesse escolher o que ela irá fazer ou falar a seguir. Quando sua mãe lhe dissesse para ir para casa da Vovó levar a cesta de doces, você poderia simplesmente dizer: “Não quero ir.” Ou, melhor ainda: ao invés de ir pela estrada principal, como sugeriu sua mãe, ou pegar o atalho da floresta, como a imprudente Chapeuzinho da história original fez, você poderia pedir a um vizinho camponês que a levasse de carroça em troca de, digamos, uma das tortas que tem na cesta... E aí? Como você acha que terminaria essa história? Com certeza, seria totalmente diferente da original.
           Essa é a idéia do RPG! Você sempre sabe como uma aventura começa, mas nunca como termina.


Chapéuzinho Vermelho e o Lobo...
No RPG a vida deles seria beeeem diferente


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

RPG – Começando pelo começo

       RPG é uma sigla que vem do Inglês: Roleplaying Game – Jogo de Interpretação. O jogo foi criado na década de 70 por Gary Gigax e Dave Arneson. As histórias não são oficiais, mas reza a lenda do RPG que os dois jogavam, com um grupo de amigos, um jogo de batalhas de miniaturas e um deles teria construído a maquete de uma fortaleza impenetrável. Após várias horas de jogo os invasores, realmente, não conseguiram transpor as muralhas do tal castelo e um deles, mais por bravata que mesmo por inspiração, disse: “Tudo bem, meus soldados não conseguiram entrar em sua fortaleza, mas tenho certeza que pelo menos um de meus homens conseguirá entrar pelos esgotos do castelo e penetrar seu interior.” O construtor da fortaleza pensou um pouco e respondeu: “Pois bem: semana que vem nós vamos jogar com esse seu guerreiro e ver o que ele encontra lá nas masmorras.” Na semana seguinte eles começaram a jogar, não com exércitos se locomovendo pelas maquetes em cima da mesa, mas com apenas um pequeno grupo de personagens, enfrentando monstros, armadilhas e, mais tarde, os temíveis dragões que dariam nome ao primeiro RPG de todos: Dungeons and Dragons – Masmorras e Dragões.

Capa da 1ª Edição de D&D
Raridade

Livro do Mestre de D&D 4ª Edição
Mais recente versão do famoso RPG

No começo, D&D era jogado com miniaturas:
Assim ó...

        Esse primeiro RPG tinha muito do que seria o RPG como conhecemos hoje, mas ainda era mais inspirado em estratégia do que em interpretação. Esse cenário, entretanto iria mudar em 1991, quando Mark Rein Hagen lançaria o RPG Vampiro: A Máscara. Inspirado no filme Entrevista com o Vampiro, esse RPG levava os jogadores a interpretar vampiros vivendo escondidos na sociedade atual, tendo que conviver com as vantagens e desvantagens de serem imortais. Nesse novo jeito de jogar RPG, as regras e as batalhas eram secundárias: o que valia era criar histórias densas e interessantes para seus personagens.
        Não quero dizer que Vampiro seja mais “sério” que D&D ou que um seja melhor que o outro (como alguns jogadores mais fanáticos, às vezes, costumam afirmar): os dois sistemas são ótimos naquilo que se propõem a fazer. Falarei sobre isso em outro post. O fato é que ambos os sistemas contribuíram para dar ao RPG a cara que ele tem atualmente. Hoje, vários outros sistemas diferentes existem a disposição do jogador e possui sua legião de fãs fiéis: sistemas como GURPS e os brasileiros DAEMON e 3D&T.

Vampirao: A Máscara
Outro clássico
        Todos eles, entretanto, bebem da fonte inaugurada pelos dois precursores, em maior ou menor grau.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

Capítulo I: Cena 2 - O Início da Jornada - 2ª Parte

         No post anterior narrei meu primeiro contato com o Universo Fantástico do RPG, se me permitem o trocadilho.
         Pois bem, foi através de uma revista inspirada no universo de Tolkien que comecei a me aventurar pelo RPG e foram muitas das histórias desse inspirado autor inglês, que na época eu estava começando a conhecer, que inspiraram minhas primeiras aventuras.
         Tudo começou assim: lá estava eu de posse de um livro de regras de RPG, mas sem ter com quem jogar. Não havia nenhum mestre na minha cidade e o acesso a internet pra mim, na época, era bem limitado. O que fazer então? Teria que começar a mestrar eu mesmo. De posse de muita empolgação, algumas revistas Dragão Brasil que conseguia compradas nos Sebos e as idéias que pululavam em minha mente, grandemente inspiradas pelo filme do Senhor dos Anéis, comecei a apresentar para meus dois irmãos mais novos o mundo mágico que começava a se descortinar diante de meus olhos, e que logo fascinou a ambos.
         Logo queríamos começar a criar nossos personagens e a levá-los pelo mundo da magia, combatendo o mal, salvando princesas e escrevendo nossos nomes na história... Hum, onde já ouvi essa frase antes?
         Nossa empolgação era tanta que logo dois amigos de meus irmãos, e, por conseguinte, colegas meus se juntaram ao grupo. Estávamos cheios de idéias para nossos personagens, na maioria nem um pouco originais, mas, com certeza, muito sinceras. Só havia um problema: pra jogar o sistema SiRIUS precisávamos de dados de 10 lados, coisa que nem em minha cidade nem na cidade vizinha (Itajubá) alguém já havia visto ou ouvido falar.

Dados de madeira para RPG: a imaginação não tem limites.

           Pois bem: não deixei isso me abater de forma alguma! Fiz eu mesmo dados de 10 lados feitos de madeira, para que pudéssemos jogar. Com carinho e muito zelo, cortava, lixava e envernizava os danadinhos, para que nada pudesse interromper nossa jornada rumo a um universo de sonhos e descobertas.
           Ainda guardo esses objetos tão simples, mas ao mesmo tempo tão simbólicos em minha vida, pois mostraram que, quando se quer alguma coisa, é só trabalhar duro e com confiança que conseguimos. He He... Como podem ver nas fotos, os dados ficavam meio tortos e me lembro muito bem que alguns números sempre saiam mais que outros, mas nem nos importávamos com isso. Tudo o que queríamos era interpretar nossos heróis e (no meu caso, snif, snif) vilões... E “jogarmos” incríveis aventuras.




D4, D6, D8, D10, D12 e D20: A coleção completa para D&D.
 

Havia dados dezenados, para rolar porcentagem e até um dado que fiz com números élficos.


sábado, 20 de agosto de 2011

Capítulo I: Cena 1 - O Iníco da Jornada - 1ª Parte

O Um Anel
O ano era 2001. Todos os fãs de fantasia medieval e filmes do gênero se encontravam em polvorosa com o anúncio da estréia do filme O Senhor dos Anéis, baseado no livro de mesmo nome que, como todos os jornalistas e especialistas diziam na época, lançou os alicerces para a fantasia medieval como a conhecemos hoje.
          É claro que tamanha comoção não passou despercebida por um jovem sonhador que sempre se interessou por filmes como Coração Valente; Excalibur, A espada do Poder e Willow, na Terra da Magia. Em sua busca por mais e mais informações sobre o filme que prometia revolucionar a indústria cinematográfica no quesito filmes de fantasia, eis que este jovem, que escreve agora, encontrou nas bancas de jornais a revista Universo Fantástico de J.RR. Tolkien.
Bonita e de muita qualidade, as páginas da tal revista traziam aos meus olhos extasiados elfos, anões, dragões, cavaleiros e toda sorte de seres fantásticos que povoaram minha imaginação, em minha infância, e que nunca abandonaram meus sonhos, mesmo depois de adulto.
Ah... quantas vezes não sonhei em ser um daqueles heróis, combatendo o mal, salvando inocentes princesas e escrevendo meu nome na história de um mundo cheio de perigos e magia. Mas sempre vinha a realidade e me mostrava que tudo aquilo não passava de um sonho, impossível de se realizar.
Universo Fantástico
 de Tolkien #6
Universo Fantástico do RPG #2
O Mundo de Enda
Universo Fantástico do RPG #1
Com livro grátis: Sistema SiRIUS
 
  Impossível? Sim, na época eu acreditava nisso, mas eis que a mesma revista que me apresentou o mundo mágico de Tolkien gera frutos, e a mesma equipe que publicava a Universo Fantástico de J.R.R. Tolkien decide publicar uma nova revista chamada Universo Fantástico do RPG. Logo no primeiro número, a revista vinha com um sistema completo de RPG, aquele “jogo estranho” onde você interpreta heróis combatendo o mal e do qual, na época, eu só havia ouvido falar.
 O nome do sistema era SiRIUS, Sistema de Regras de Interpretação de Uso Simplificado, e era, na verdade, um sistema básico de RPG, que estava sendo lançado na época por Rogério Mendes com o objetivo de divulgar o jogo. Era simples, objetivo e de fácil aquisição, tudo que eu precisava naquela época de vacas magras para dar inicio a minha jornada ao mundo da fantasia...
            E foi exatamente o que eu fiz...
Deixando o Condado, por Ted Nasmith.
Lembro me que, depois dessa cena, uma noite de luar nunca mais foi a mesma pra mim.